ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

84. NATAL 2012





Graças ao bom Deus está acabando 2012.  Ano de eleições, de corrupção desenfreada, de hipocrisia, do fim do mundo que não houve, mas também ano no qual este pequeno blog sobre agricultura familiar chegou a marca dos 14.000 acessos com quase 900 mensais. Neste país de pouca cultura o indicador chega a ser incrível. 
Nesta última primavera consegui, finalmente, fazer germinar mais do que 80% das sementes semeadas de alcaparreiras. Fiz, também, contato com “Alcaparras Tierra del Sol” em Canellones, Uruguay, com a Beti que, em nosso vizinho país, prova a dificuldade em cultivar o vegetal.
Bem verdade que nosso trabalho no blog foi menos produtivo este ano. É que, desde fevereiro, tivermos que desviar nossa atenção deste trabalho produtivo, para cuidar da lambança havida no loteamento denominado Jardim Virginia, Guarujá, onde a parcela improdutiva da sociedade brasileira procurou ganhar dinheiro sem o suor de seus rostos. O pior é que parece estar conseguindo mostrando, com isso aos jovens, que não se ganha dinheiro honestamente, mas sim com acordos espúrios. Estamos trilhando um mau caminho, ensinando aos jovens que o trabalho honesto não é a melhor opção. Lamentável.
No mês de dezembro começam a amadurecer os figos da Índia, cuja foto mostra o fruto de cor roxa. Também colhemos algumas grumixamas, grandes e saborosas. É uma fruteira da Mata Atlântica esquecida pelos órgãos oficiais que já deveriam, há tempo, ter desenvolvido o vegetal para produção comercial.

Neste ensejo desejo aos seguidores, e a todos que acessam o blog, os melhores votos de feliz natal,  paz e prosperidade em 2013.



Di Petta, Sérgio



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

83. CÓDIGO FLORESTAL



A Reforma de Martinho Lutero visava, principalmente, a tradução da Bíblia do latim, língua que o povo não entendia, para o alemão, que todos falavam. Ele acreditava que as pessoas deveriam compreender os preceitos, as leis de Deus, não através de representantes que as interpretassem, mas lendo diretamente do Livro Santo.

Pois é, as leis do novo Código Florestal brasileiro foram definitivamente sancionadas pela nossa preclara presidente, e interferem, doravante, com as atitudes de todos nós que moramos neste belo país. Mais importante do que obedecer às leis de Deus cujo castigo pela desobediência se paga com três Ave-Marias, será obedecer ao novo Código porque as infrações se constituem em multas pesadíssimas, às vezes incompatíveis com o crime cometido e chegam até a prisão quiçá inafiançável. A Bíblia, em nosso idioma, nos ensina de maneira clara o que podemos ou não fazer, afinal foi escrito sob inspiração divina.   Já o novo Código Florestal ainda eu não sei.

Todos nós interagimos, a cada momento, com o meio ambiente e, portanto temos que saber as novas regras, os pecados e as penas, para que não tenhamos o dissabor de uma autuação por descumprimento das medidas coercitivas para salvar a ararinha azul de rabo curto. Nessas condições procurei na internet o tal Código para comprar. Todo código que se preza deve ser conciso e preciso, portanto um livrinho de poucas páginas, um opúsculo. Não achei nada mais em conta do que R$40,00 o exemplar, é verdade que dizia na oferta do produto que era um código comentado. Hum! Se for necessário comentário para ser entendido estamos fritos. Deve ter sido escrito em linguagem cifrada cujo entendimento necessita de tradução e, naturalmente, cheio de siglas. Deus nos ajude!

Inobstante, é um assunto de relevada importância, mas assim não foi entendido pelos poderes incompetentes porque, tão logo sancionada a lei, deveria o governo estar com no mínimo dez milhões de exemplares desse famigerado código para o conhecimento geral, ainda que fossem vendidos ao povo a preço de custo. Porém nem tudo está perdido. Daqui a dois anos teremos eleições para deputados e senadores.  Certamente algum deles irá mandar editar o tal código com seu, meu, nosso dinheiro e o distribuirá gratuitamente entre seus eleitores, naturalmente com sua propaganda na primeira página. Até lá todo cuidado é pouco. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

82. ALCAPARRAS (18)




Finalmente um ótimo resultado. Conforme eu havia dito na postagem precedente, o método experimental para forçar a germinação das sementes de alcaparreiras mostrava-se bastante promissor, e de fato a foto acima evidencia, de maneira cabal, que podemos obter 70 % de germinação,  e até mais, utilizando o procedimento descrito na postagem 81.  A expansão do cultivo desse condimento esbarrava na multiplicação da planta, uma vez que a dificuldade da germinação de sementes e de pegamento de estacas impedia qualquer implantação de uma plantação economica. A solução apontada de multiplicação celular ficou paralizada por falta de interesse dos orgãos oficiais de maneira que tudo isso apontava para a paralização definitiva do cultivo do condimento no país.

O impasse foi resolvido e a a foto acima demonstra que já podemos pensar em grandes plantações de alcaparreiras oriundas de multiplicação sexuada. As sementes são relativamente fáceis de serem obtidas uma vez que a planta tem abundante frutificação e os frutos contém em torno de uma centena de pequenas sementes. O metodo descrito na postagem anterior é de baixissimo custo inclusive se usarmos a perlita como primeiro substrato. Nada impede ainda experimentar o uso de vermiculita ou mesmo de um substrato comercial  asséptico para obter esse alto percentual de germinação em lugar da perlita. De qualquer maneira já está demonstrada a viabilidade da germinação e, portanto, podemos a partir de agora começar a plantar comercialmente.

É sempre bom lembrar que para a germinação será necessário tão somente água, calor e ambiente asséptico. A alimentação das plântulas nos primeiros dias será suprida pela semente. Em seguida teremos que aportar os nutrientes necessários juntamente com a água. É sempre necessário “acordar” o embrião da semente com um dos vários métodos conhecidos. Assim que a muda tiver quatro ou cinco folhinhas deve-se fazer o transplante para saquinhos de plástico (ou vasos plásticos) com um substrato permeável onde permanecerá  até a próxima primavera quando será plantada no lugar definitivo. Acresce lembrar ainda que a melhor época para a semeadura é, e será sempre, o final do inverno para que a natureza ajude nosso esforço em fazer germinar as sementes. A semeadura em outras épocas tambem é possivel mas o resultado não será o mesmo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

81. ALCAPARRAS (17)



Eu tenho alcaparreiras produzindo há mais de 10 anos e a produção, por planta, é aquela esperada e que consta no livro “O cultivo de alcaparreiras”. Contudo, a ampliação da cultura para que a colheita possa representar um bem econômico tem sido freada pela dificuldade de multiplicação do vegetal. Como já foi largamente explicado nos textos anteriores,  a multiplicação sexuada (através de sementes) tem desanimado muita gente interessada no cultivo desse condimento e com razão. O percentual de germinação é baixíssimo e as poucas plantinhas que nascem precisam de muitos cuidados nos primeiros meses. 
Bem, tudo isso já era do conhecimento geral e a solução seria a multiplicação celular por divisão meristemática, técnica existente há muitos anos mas fora do alcance do pequeno produtor. Não é que seja uma técnica muito sofisticada, pelo contrário. Há necessidade de um local asséptico e alguns equipamentos próprios para a divisão do meristema da planta, que deve ser escolhida pela sua sanidade e produção.  Na Argentina, em Santiago del Estero, um médico, proprietário de uma pequena propriedade, investiu, talves uns 20.000 dólares, e já está produzindo e exportando mudas para America Latina. Lá ele não conseguiu um apoio governamental. Aqui no Brasil, apesar de eu ter mandado meu livro para a Embrapa e secretários de agricultura e outros órgãos, não tive, sequer, uma resposta de muito obrigado. Meu contato com unidades de desenvolvimento de agricultura de excelência, também não resultou, devido a falta de objetividade das pessoas envolvidas que não entenderam que servidor público está sendo pago para servir o Brasil e não para servir-se dele. Ultimamente recebi um telefonema de um professor de uma universidade se dizendo interessado no assunto. Coloquei-me a disposição e a conversa morreu aí. Como a classe estava em greve, julguei que esse fosse o motivo da ausência de uma delicada resposta. 
Na falta de apoio dos orgãos pagos por todos brasileiros para desenvolver nossa agricultura, estou continuando, sozinho, a pesquisar meios de fazer germinar, a contento, as sementes de  alcaparreiras e, creio, obtive uma sensível melhora no percentual de germinação com o procedimento seguinte: Na foto 1 vemos um recipiente plástico com tampa hermética. Preenchemos até a metade com perlita, produto de origem vulcânica asséptico e com  propriedades de reter umidade. (talves possa ser usado vermiculita). Sobre esse substrato coloquei sementes de alcaparreiras, reguei de maneira que alguma água restasse no fundo do recipiente, após foi colocada tampa hermética. O conjunto foi colocado em um local coberto com material transparente onde a caixa recebe bastante insolação. O conjunto funciona mais ou menos assim: Durante o dia a caixa se aquece e a água evapora e se deposita na tampa formando gotículas. Quando as gotículas se avolumam caem sobre as sementes umidecendo-as. Enfim, calor, umidade e ambiente asséptico. 
A semeadura foi feita no mês de julho e foi utilizada a técnica de manter as sementes na geladeira por 30 dias antes de semeá-las. Na foto 2 vemos a eclosão das primeiras sementes quando foi feita a foto. Hoje são muitas e já apresentam as primeiras folhinhas. Naturalmente há necessidade de seguir e finalizar a experiência que me parece bastante promissora. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

80. CUPIM (EUCALIPTO)




Quem sai de São Paulo em direção ao Rio pela rodovia Airton Senna verá, principalmente no lado direito, pastos repletos de cupinzeiros como se fossem de propósito plantados (foto 1). São centenas e, em alguns lugares, milhares, quase um em cada metro quadrado. São terrenos utilizados para a criação de gado durante muitos anos, cujo solo, apiloado pelas patas dos animais, não vê um arado há muito tempo. Em decorrência do endurecimento do solo e o ataque dos cupins a vegetação, às vezes braquiária, cresce mofina e as águas das chuvas, sem poder penetrar no solo duro, escorre rapidamente para as vossorocas.

Grandes extensões sem árvores. Nenhum bosque onde possam sobreviver alguns tamanduás, tão necessários para fazer o controle dos cupins que se multiplicam de uma forma assombrosa. Esses pastos estão, com certeza, abandonados ou subutilizados e a prova maior é o grande número de cupinzeiros. Um pasto cuidado necessita, de tempos em tempos, de um subsolador para afofar o terreno e permitir a penetração das águas pluviais e nessa hora, certamente, os cupinzeiros seriam destruídos. Os cupins vivem das raízes das plantas.
Quem pretender iniciar um reflorestamento com eucaliptos não deverá se preocupar somente com formigas saúvas; estas cortam a parte aérea das mudinhas. Os cupins devoram as raízes. Para minimizar o ataque de cupins durante a plantação é necessário colocar, na cova, juntamente com o adubo de enraizamento, um pouco de cupincida em pó. Apesar desse cuidado às vezes poderá acontecer de alguma mudinha secar logo no primeiro mês após a plantação. Pode ocorrer também um desenvolvimento lento, não acompanhando o ritmo das outras plantas e isso se deve ao ataque de cupins. Na foto 2 temos uma muda recém plantada seca. Ao arrancá-la da terra veio junto um cupim agarrado a sua pequena Raiz. A foto 3 mostra a raiz de uma planta com três meses fortemente atacada por cupins que roeram completamente suas raízes.

As perdas decorrentes do ataque de cupins, em um reflorestamento com eucaliptos, podem ser assaz relevantes se levarmos em conta as árvores que tem seu crescimento retardado por ataque de cupins em suas raízes. Esses vegetais não chegam a morrer, mas têm seu desenvolvimento retardado em relação aos que lhe estão próximos perdendo, portanto, a insolação e, com a diminuição da fotossíntese permanecem vivos, mas não se desenvolvem.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

79. ÁGUA (1)


             


Há trinta e cinco anos cuido de uma pequena propriedade rural. O homem do campo sabe que propriedade sem água nada vale. Nós, humanos, precisamos de água para sobreviver. Sem água não se cria gado; a imensa maioria dos vegetais não prospera sem umidade. Enfim, água é sinônimo de vida. Venho, durante esse tempo, estudando a variação de temperatura bem como a freqüência das chuvas que, naturalmente, são responsáveis pelo nível do lençol freático e até pelas águas mais profundas, artesianas.

A casa sede, estabelecida a 100 anos fica, como é natural, próxima a uma pequena mina d’água. Em todos esses longos anos ela nunca deixou de fornecer o fluido da vida em quantidade compatível com o gasto normal de uma família que, naqueles tempos, era numerosa. Servia também para matar a sede de porcos, galinhas e algum gado de leite. Na estação das chuvas jorrava de um cano de duas polegadas. Na pior das secas ainda fornecia quase meia polegada de água. Nos últimos 15 anos, porem, o regime pluvial tornou-se irregular, às vezes com pouca chuva invernal e quase nenhuma no início da primavera, obrigando o agricultor a iniciar o plantio do milho ou feijão, não mais em setembro/outubro, mas sim no fim de novembro. Esse não é, todavia, o principal motivo do fracasso da mina d’água que durante tanto tempo abasteceu a propriedade.

As águas do lençol sub-superficial, via de regra, são responsáveis pelas minas d’água existentes e essa água é, a cada estação chuvosa, reposta para manter o fornecimento das fontes. Um manancial poderá secar por três motivos:
1. Por diminuição acentuada das precipitações pluviais (menos plausível).
2. Porque houve um aprofundamento da fonte e está sendo retirada mais água da que, normalmente, a fonte poderia fornecer.
3. Porque as terras a montante estão impermeabilizadas e não permitem a penetração das águas das chuvas que iriam repor o nível freático.

Estamos no final de agosto e a foto nº 1 mostra que a fonte secou, isto é, o nível do lençol freático tornou-se mais baixo do que o ponto de saída do manancial.  A foto 2 mostra o principal motivo da ocorrência. Vemos ali uma pastagem em declive, muito apiloada pelos cascos do gado. Os cupinzeiros são indicativos de que há mais de 10 anos não é feita uma subsolagem ou aração em curvas de nível para possibilitar a penetração das águas. Do jeito como está toda a água das chuvas correrá rapidamente, inclusive pelos caminhos deixados pelo gado, em direção ao riacho mais próximo. Mesmo durante as chuvas continuadas pouca água penetrará no solo endurecido. A foto 3 nos mostra uma área reflorestada, ainda que seja com eucalipto, onde a braquiária vegeta em pleno inverno porque sofre menos com a inclemência do calor solar e dispõe de mais umidade. Qualquer área reflorestada retém mais umidade e facilita sua penetração no solo.

Outro motivo que contribui para a diminuição das águas do sob-solo é seu represamento porque, se por um lado facilita a penetração de água no solo, por outro promove uma exacerbada evaporação e não sei dizer se a quantificação desse balanço beneficia ou prejudica o nível das águas freáticas.