ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

quarta-feira, 6 de março de 2013

87. EVOLUÇÃO COMPORTAMENTAL



A ânsia para chegar a um ignorado objetivo leva as espécies vegetais e animais buscarem infinitos artifícios para se perpetuar neste nosso planeta, ainda parcamente conhecido. Assim são os homens que buscam o Poder e praticam o nepotismo para perpetuar sua genética. São assim também as borboletas, para conseguir igual propósito.

Esses lindos e interessantes lepidópteros ropalóceros, como se sabe, colocam seus ovos nas folhas dos vegetais para que, ao eclodirem, as pequenas lagartas tenham alimento à disposição. Incansáveis voadores procuram, em cada região,  os vegetais que melhor possam alimentar sua prole. Muitas vezes escolhem determinada planta e passam a colocar seus ovos somente nelas e assim deveria ser o caso da borboleta que se vê na foto 3022 acima, antes do aparecimento da exótica alcaparreira.

Em torno do ano 2000 eu introduzi alcaparreiras no Sul de Minas Gerais fazendo um pequeno canteiro experimental. Era, portanto, uma planta até antão inexistente na região, inicialmente livre de predadores que não tardariam em descobrir a nova espécie. As formigas já eram esperadas, pois, também nos locais de origem, incomodam esse vegetal. Em seguida apareceram as borboletas (foto 3022) que passaram a depositar seus ovos no anverso das pequenas folhas da planta. É certo que o citado lepidóptero, existente na região há centenas (talvez milhares) de anos, já deveria ter escolhido seu vegetal onde costumeiramente colocava seus ovos, mas com o aparecimento da nova espécie, todavia, mudou sua conduta centenária.   

Essa mudança de comportamento envolve uma decisão difícil e extremamente perigosa para a sobrevivência da espécie que a comete. É necessário que a borboleta saiba que a nova espécie não é, de nenhuma forma, venenosa para suas lagartas. Como consegue saber? Essa mudança de comportamento seria produto de uma variação ou mutação genética daqueles lepidópteros?  Ou, mais simplesmente, a borboleta tem condições (intelectuais) de discernir quais vegetais são apropriados para a deposição de seus ovos. Estas são perguntas para os geneticistas evolucionistas, mas não é o meu argumento principal.

Fato interessante e inusitado deu-se na seqüência de nosso ingente esforço em eliminar todas as investidas da borboleta no sentido de fazer das alcaparreiras o berçário de suas crias. Durante mais de cinco anos todos os ovos depositados nas folhas do vegetal foram sistematicamente eliminados, de maneira a inviabilizar a procriação do lepidóptero, portanto colocando em risco a espécie. No ano de 2011/12 as borboletas abandonaram as alcaparreiras. A foto 3022 mostra a borboleta durante a postura que ocorria costumeiramente até 2011. A foto 5687 revela a alcaparreira livre das visitas indesejáveis do lepidóptero.

Não posso acreditar que entre elas correu a história, transmitida através de suas antenas, de que o agricultor daquelas saborosas plantas era mau e esmagava seus ovos e lagartas, portanto, era melhor que procurassem outro local para botar seus ovos.  Se fosse uma variedade, talvez tenha se extinguido por falta de seqüencia, mercê da seleção natural. De qualquer forma é um fato inusitado que poderia contribuir para o entendimento da evolução comportamental, inclusive daquela que nós, humanos, estamos submetidos.


Um comentário:

  1. Ótimo texto!Acredito também que,um entendimento comportamental só terá coerência através de um enfoque evolutivo.
    Abraço

    ResponderExcluir