A ânsia
para chegar a um ignorado objetivo leva as espécies vegetais e animais buscarem
infinitos artifícios para se perpetuar neste nosso planeta, ainda parcamente
conhecido. Assim são os homens que buscam o Poder e praticam o nepotismo para
perpetuar sua genética. São assim também as borboletas, para conseguir igual
propósito.
Esses
lindos e interessantes lepidópteros ropalóceros, como se sabe, colocam seus
ovos nas folhas dos vegetais para que, ao eclodirem, as pequenas lagartas
tenham alimento à disposição. Incansáveis voadores procuram, em cada região, os vegetais que melhor possam alimentar sua
prole. Muitas vezes escolhem determinada planta e passam a colocar seus ovos
somente nelas e assim deveria ser o caso da borboleta que se vê na foto 3022
acima, antes do aparecimento da exótica alcaparreira.
Em
torno do ano 2000 eu introduzi alcaparreiras no Sul de Minas Gerais fazendo um
pequeno canteiro experimental. Era, portanto, uma planta até antão inexistente
na região, inicialmente livre de predadores que não tardariam em descobrir a
nova espécie. As formigas já eram esperadas, pois, também nos locais de origem,
incomodam esse vegetal. Em seguida apareceram as borboletas (foto 3022) que
passaram a depositar seus ovos no anverso das pequenas folhas da planta. É
certo que o citado lepidóptero, existente na região há centenas (talvez
milhares) de anos, já deveria ter escolhido seu vegetal onde costumeiramente
colocava seus ovos, mas com o aparecimento da nova espécie, todavia, mudou sua
conduta centenária.
Essa
mudança de comportamento envolve uma decisão difícil e extremamente perigosa
para a sobrevivência da espécie que a comete. É necessário que a borboleta
saiba que a nova espécie não é, de nenhuma forma, venenosa para suas lagartas.
Como consegue saber? Essa mudança de comportamento seria produto de uma
variação ou mutação genética daqueles lepidópteros? Ou, mais simplesmente, a borboleta tem condições
(intelectuais) de discernir quais vegetais são apropriados para a deposição de
seus ovos. Estas são perguntas para os geneticistas evolucionistas, mas não é o
meu argumento principal.
Fato
interessante e inusitado deu-se na seqüência de nosso ingente esforço em
eliminar todas as investidas da borboleta no sentido de fazer das alcaparreiras
o berçário de suas crias. Durante mais de cinco anos todos os ovos depositados
nas folhas do vegetal foram sistematicamente eliminados, de maneira a
inviabilizar a procriação do lepidóptero, portanto colocando em risco a
espécie. No ano de 2011/12 as borboletas abandonaram as alcaparreiras. A foto
3022 mostra a borboleta durante a postura que ocorria costumeiramente até 2011.
A foto 5687 revela a alcaparreira livre das visitas indesejáveis do lepidóptero.
Não
posso acreditar que entre elas correu a história, transmitida através de suas
antenas, de que o agricultor daquelas saborosas plantas era mau e esmagava seus
ovos e lagartas, portanto, era melhor que procurassem outro local para botar
seus ovos. Se fosse uma variedade,
talvez tenha se extinguido por falta de seqüencia, mercê da seleção natural. De
qualquer forma é um fato inusitado que poderia contribuir para o entendimento
da evolução comportamental, inclusive daquela que nós, humanos, estamos submetidos.