ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

102. ALCAPARRAS (27)


Após quinze anos de trabalhos, no sentido de adaptar a caparis spinosa (inermis) em clima e terreno do Sul de Minas Gerais, conseguimos selecionar duas plantas originadas das variações obtidas pela multiplicação sexuada.  Com uma dezena de plantas no ano 2000 obtivemos sementes decorrentes da polinização aleatória entre essas plantas. Naturalmente, as alcaparreiras originadas dessa multiplicação sofreram variações mercê do estresse causado pela adequação ao novo terreno e clima. Em decorrência obtivemos uma diversidade de desempenhos. Algumas plantas se desenvolveram mais mofinas, outras com folhas menores ou cujos botões florais se abriam mais cedo, outras ainda, com sistema radicular enfraquecido e que, por isso, sofreu o ataque de fungos e insetos.

Nossa esperança é que aparecesse alguma variação adaptada, mais vigorosa, cuja produção pudesse responder as nossas necessidades e isso aconteceu. Há três anos selecionamos duas plantas às quais chamamos de BR 1 e BR 2  (fotos 443 A  e  441  A)  e a partir daí iniciamos a multiplicá-las utilizando a estaquia de brotações herbáceas. Naturalmente a clonagem utilizando o meristema seria o ideal, mas não tivemos acesso a esses serviços. 



As fotos 447 A  e  446  A, mostram duas estacas da BR  2 com dois anos e meio, muito vigorosas e já produzindo. Abaixo, fotos 449 A, 452  A e 453  A  são de estacas, também da matriz BR  2, com um ano e meio, vigorosas e já produzindo.



Escolhidas essas plantas matrizes, poderíamos utilizá-las para a produção de sementes originadas de polinização cruzada ou auto-fecundação. Entretanto por alguns motivos que fogem ao escopo deste trabalho, é mais aconselhável utilizar clones das plantas madre.


Na postagem anterior apresentamos alcaparras compradas em um supermercado Italiano, conservadas no sal. O objetivo foi comparar paladar e cheiro com as que produzimos no sítio São Camilo para averiguar se a diferença de clima e terreno poderia alterar aroma e sabor. Submetemos a apreciação de algumas pessoas familiarizadas com o condimento e as alcaparras produzidas aqui superaram às provenientes da Itália. Penso que seja por que são mais frescas. O objetivo foi atingido, agora temos que difundir a cultura para que as pequenas propriedades familiares possam suprir o consumo brasileiro, que é bastante significativo, e com isso também aumentar sua renda viabilizando a sua vida no campo.  10/10/2015.


101. ALCAPARRAS (26)




As duas embalagens com alcaparras e sal foram compradas nos supermercados COOP, na Itália e custam em torno de 2,50 euros, isto é, descontado o sal, em torno de R$170,00 o kg. (set. 2015). As alcaparras Ponti são marroquinas, as La Palma são confeccionadas em Nápoles e não indicam a origem, mas provavelmente são italianas.

As alcaparras conservadas somente no sal, - entre 25% e 35% de sal - em geral custam mais caras do que aquelas conservadas em água de vinagre. Um dos motivos é porque as conservadas somente no sal não tem seu peso adicionado da água, isto é, são mais enxutas. A alcaparra conservada na água de vinagre tem seu peso adicionado da água que ela contem.

Poderíamos perguntar por que a Itália, produtora de excelentes alcaparras (Pantelleria) importa e vende alcaparras marroquinas. Ocorre que a produção de alcaparras, alem do clima e solo, requer muita mão de obra. A coleta dos botões florais não pode ser automatizada, tem que ser feita a mão e, durante a época da colheita, quase todo dia. Um trabalhador italiano (ou extra comunitário, sem documentação) não ganha menos do que 25 euros por dia de trabalho, o que torna a produção de alcaparras na Itália muito mais cara do que a do Marrocos, onde a mão de obra é  muito mais barata.

A viabilidade da produção de alcaparras italiana tem sentido quando feita por pequenos proprietários muitas vezes sem intervenção de empregados. Esses produtores se reúnem em cooperativas e com isso podem conseguir viabilizar a produção e venda do produto.

Seguindo o mesmo raciocínio, o cultivo de alcaparras no Brasil deve ser entendido como uma solução para as pequenas propriedades onde o produtor rural e sua família cuidam, recolhem e eventualmente tratam as alcaparras. Para o tratamento dos botões florais e sua comercialização poderão se constituir em cooperativas como existem em Pantelleria na Italia.

Por esse motivo sempre temos defendido a tese de que no Brasil a produção de alcaparras deve visar às pequenas propriedades, eventualmente no nordeste brasileiro. Sem dúvida o lucro originado dessa produção poderia representar uma ajuda importante para manter o sertanejo no campo. Com a palavra os órgãos governamentais de suporte aos agricultores de nosso país.