ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

43. Meio ambiente (3)

Ecologia e meio ambiente tem muita coisa a ver. Examinem o que estão pensando e teorizando eminentes figuras acadêmicas fartamente pagas pelos cofres públicos. Ouçamo-los: ecologia é uma ciência que se preocupa com os seres vivos e o ambiente. Tem a Ecologia Animal, a Vegetal e também a Geral, além, é claro, a dos Microorganismos que não são nem animais ou vegetais. Tem ainda a Autoecologia, a Ecologia Fisiológica ou Ecofisiologia e também a Sinecologia e a Ecogeografia, e por ai vai.
O que deve ser simples e prático foi devidamente confundido e teorizado com regras obtusas que somente são conhecidas por um hermético grupo de acadêmicos urbanícolas, tornando-se um mistério para a plebe de quem depende, diretamente, a saúde do meio ambiente. Hoje o uso das palavras ecológico(a) e auto sustentável virou moda. Até os papagaios as repetem, sem saber muito bem o que significam. Tornaram-se um salvo- conduto para esconder as mais grosseiras falcatruas.
Eu era garoto logo depois da segunda Grande Guerra e não sei por que já tinha ouvido falar num tal de Código de Águas. Entre outras coisas lá dizia que se deveria deixar nas margens dos rios uma área non aedificanti, naturalmente no talvegue do vale onde corre o rio. Acho que memorizei a história por causa da palavra talvegue.
Leis, boas ou más, já havia desde muito tempo. Quem deveria fiscalizar e recebeu salário para isso, não o fez, nem as leis tiveram uma divulgação necessária. Acharam que colocando na Constituição que ninguém pode dizer que desconhece as leis já resolveria o problema. As matas ciliares foram cortadas e os rios e ribeirões ficaram sem proteção. Com o beneplácito das “autoridades” construiu-se nas margens e até em palafitas sobre os rios, como se fazia há 3000 anos! Que pobreza de espírito. Não adianta depois da casa arrombada colocar apressadamente um enorme cadeado. Não é uma lei fundiária geral que irá consertar, em todo o Brasil, a esculhambação que se tornou nosso ambiente. As multas somente servirão para enriquecer os fiscais e tumultuar o Judiciário. (continua)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

42. Meio ambiente (2)

Trinta anos atrás eu tive no sítio um casal de caseiros, gente simples, da roça, com pouca ou nenhuma escolaridade. Moravam em uma casa de quarto, sala, cozinha e banheiro e cozinhavam em fogão a lenha que servia também para aquecer a água para o chuveiro. A casinha ficava praticamente no meio do pasto onde tambem ficavam as vacas de leite “pés duro”, de 5 litros por dia. Isso quando não perdiam alguma teta por mastite, aí davam somente 3 litros.
Após alguns meses resolvi dar uma espiada no pasto ao redor da casa. Na direção da janela da cozinha o local estava cheio de lixo. Sacos plásticos, latas de óleo vazias, latas de massa de tomate, enfim, uma porcaria. Quando uma embalagem qualquer esvaziava, a mulher do caseiro simplesmente jogava pela janela, sem muita força! E se uma vaca comesse um daqueles plásticos junto com o capim? (não me venha dizer que ela daria leite no saquinho!)
Num primeiro momento pensei em repreender o empregado, mas em seguida percebi que a culpa era minha. Eu não poderia copiar o poder publico que proíbe que se jogue lixo aqui e acolá e não prevê locais apropriados para esse despejo.
Estabeleci, então, locais adequados para o lançamento dos materiais inservíveis que depois eram levados para a cidade. Na cidade a prefeitura juntava com o lixo recolhido e jogava tudo no mato de novo. Nos trinta anos que se passaram quase nenhum progresso foi feito nesse sentido. Ainda continuamos a amontoar nosso lixo doméstico em grandes aterros, só que agora, dizem, com toda a tecnologia e enorme despesa para os cofres públicos.
Os detritos que produzimos inclusive nosso cocô, têm que ser sabiamente reciclado sob pena de sermos obrigados a viver de permeio à sujeira como acontece na periferia das cidades do Brasil onde pouquíssimo lixo é tratado e o cocô, quando coletado, é lançado in natura no rio mais próximo. Uma vergonha. Vai demorar para que essa gente inculta que comanda o país apreenda que a separação do lixo deve ser feita no local de origem, como no Japão. (Continua)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

41. Meio ambiente (1)

Vista parcial em "comunidade" na periferia de uma cidade com mais de 150.000
habitantes. E a mata ciliar, tão exigida ao pequeno produtor rural?                     

A pequena propriedade familiar é o que nos interessa. Neste imenso Brasil é ali que habitam milhões de famílias de cujo trabalho árduo vivem os habitantes das cidades, local no qual estão as escolas, os hospitais, os supermercados, as comunidades (favelas), as quais nada mais são do que desenvolvimento urbano feito ao arrepio da fiscalização do deficiente e inócuo poder público.
Nessas cidades, mal planejadas, sujas e mal administradas, é que nascem as leis e regulamentos que, hoje, pretendem ordenar a vida do homem do campo.
Eu não poderia deixar de iniciar estes meus comentários sem veicular uma carta bastante representativa da atual situação.


A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio-ambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.


Carta do Zé agricultor para o Luis, da cidade.


Prezado Luiz, há quanto tempo!



Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormir já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?
Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só à uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ...) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana e não param de fazer leite. Os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?
Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.
Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, eu tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelos fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.
Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?
Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou à capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.
Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo, ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.
Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom é só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abrir a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado, pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.


(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

40. Alcaparras

Foto 1

Alguém poderia perguntar porque produzir alcaparras no Brasil? Vejamos alguns números: O Brasil hoje importa, grosso modo, 800 ton/ano ao preço de USD 2500,00 a ton, no mínimo. Grande parte dessa importação provém do Marrocos. As alcaparras de origem espanhola, italiana ou turca são mais caras. No varejo, alcaparras de boa qualidade poderão ser vendidas, acondicionadas em vidros de 60 g, a R$6,00 ou seja, a R$ 100,00 o kg!
Uma planta de alcaparras poderá produzir em média 3kg/ano (A AR1, segundo seu criador, poderá chegar a 8kg/ano) Façamos a conta considerando a produção menor. Para suprir a atual importação brasileira de alcaparras o pais deverá plantar 266 666 plantas. Considerando um espaçamento de 2,50x 2,50m vem 1600 plantas por ha. Logo teremos que ter 166, 666 ha plantados com alcaparreiras o que é pouca coisa.
Entretanto deveremos estar cientes de que a colheita é manual e se estente por meses. Essa é, sem dúvida, uma cultura própria para o pequeno proprietario que desenvolve a agricultura familiar. Cultivar alcaparreiras servirá para a complementação da sua renda anual.
Um agricultor que cultive 1 ha com alcaparreiras, isto é, 1600 plantas, poderá obter 4800kg de alcaparras/ano, que devidamente curadas serão vendidas no semi atacado por R$12,00 o kg, perfazendo um total anual de R$57600,00. Nada mal.