ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

17. Figo da Índia (1)

Foto (1)
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Foto (2)
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Na foto 1, temos uma Opuntia ficus-indica com 10 anos e proveniente de semente de origem Itálica. Trata-se da não muito conhecida figueira da índia que, provavelmente, tem origem mexicana, espécie dispersada por espanhóis e portugueses em suas aventuras durante o século XVI. Esse figo, de polpa macia e doce, envolvida por uma casca cravejada de pequenos espinhos é, com certeza, um amor antigo. Eu, sempre a procura de frutas com sabores inusitados, encontrei, há mais de cinquenta anos, frutos muito coloridos à venda em uma feira da Lapa, São Paulo. Foi uma experiência dolorosa pois os quase invisíveis espinhos que revestem os figos fixam-se firmemente em nossa pele e causam bastante incomodo. Em 1974 durante uma viagem ao México em visita a tenochtitlan avistei, a distancia, uma figueira com frutos vermelhos brilhantes. Não resisti, fui até o local. A planta era uma opuntia, entretanto os figos, túrgidos, não apresentavam os pequenos espinhos. Não pude deixar de experimentar!
As cactáceas evoluíram em climas desérticos onde o prazo de recorrência das chuvas não se media em dias ou meses, mas em anos! Adaptaram-se. São suculentas porque armazenam água para os períodos de seca. No caso da opuntia, as folhas não mais existem e as palmas constituem os ramos (galhos) clorofilados. O próprio fruto, ao nascer, não sabe se será um novo galho ou uma fruta deliciosa. Foto 2.
A evolução conduz, às vezes, vegetais e animais por descaminhos verdadeiramente mágicos. (continua)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

16. GRUMIXAMA (3)

FOTO (1)
FOTO (2)









    


Foto 1

Alguém já disse que uma foto vale mais do que mil palavras. Vou me abster de descrever quantas pétalas, sépalas e estigmas possui essa pequena flor branca. Basta dizer que a foto 1 acima reproduz flores de grumixama as quais, fertilizadas, produzirão o fruto mostrado na foto 2.
Essa floração se deu em fins de dezembro e os frutos maduros vieram no começo de fevereiro. Outra frutificação já havia ocorrido na primavera com frutos negros e brilhantes. De acordo com a literatura existem também variedades que apresentam frutos vermelhos e amarelos.

Foto 2

Os frutos são parecidos com uma cereja, mas a polpa é bem menos espessa e o paladar poderá ser mais ou menos doce, levemente adstringente. Presta-se como fruta de mesa, para fazer geléia ou licor, mas é dificilmente encontrada no mercado, especialmente no sudoeste do país. Não tem sido muito cultivada acredito que seja porque a demanda ainda é muito pequena, ou seja, a fruta ainda não conseguiu se firmar no mercado através de consumidores cativos. Para que isso aconteça é necessário, como já foi dito, desenvolver cultivares cujos frutos tenham polpa mais espessa e que o amadurecimento dos frutos não se comporte como as jabuticabas, isto é, período de colheita muito curto, o que não contribui para que o comprador se acostume a adquirir a fruta.
O cultivo dessa frutífera começa pelo estudo de sua multiplicação. Semear é a melhor maneira ainda que, às vezes não seja muito fácil. As tentativas de germinação que eu fiz sem utilizar processos de quebra de dormência não resultaram. Alunos da Universidade Federal do Espírito Santo, Secção de Fitotecnia, experimentaram colocar as sementes na geladeira e após, deixá-las em água quente em várias temperaturas e tempos diferentes. Pelo que eu entendi as sementes testemunhas, que haviam somente ficado alguns dias na geladeira, tiveram melhor resultado. O campo está aberto para os pesquisadores. (final)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

15. GRUMIXAMA (2)



Grumixama é o nome da fruta e tem origem no idioma Tupi. A árvore se chama grumixameira, porém existe uma tendência popular, como em tantos outros casos, de chamar fruto e planta com o mesmo nome. Está classificada como Eugenia brasiliensis e pertence a família das mirtáceas. A fruta é muito parecida com a cereja, do gênero prunus, que pertence à família das rosáceas, com origem no norte da Europa, Ásia e America.
A cereja atual é uma fruta fabricada, isto é, originada de espécies silvestres tais como o prunun avium e prunus cerasus, e teve suas características melhoradas para que pudesse atender à demanda por uma fruta suculenta, com boa espessura de polpa e agradável ao paladar.
A grumixameira tem peculiaridades que a recomenda ao processo de melhoramento e poderá se tornar a cereja brasileira daqui a um tempo não muito curto é verdade, mas é um trabalho inteligente que valerá a pena. Natural da Mata Atlântica vegeta com muito vigor da Bahia até Santa Catarina, locais onde resiste bem aos predadores naturais e é altamente produtiva. Senhores! Quem se habilita a começar?
Além dos deliciosos frutos, necessários à alimentação de nossa fauna alada, se trata de uma árvore maravilhosa para ornamentação. Bem conduzida chegará aos seis ou sete metros (há quem afirme que na competição pela luz pode atingir 20 m) e mesmo sem flores ou frutos suas folhas verdes brilhantes constituem uma dádiva maravilhosa para quem procura a suave estética natural. (continua)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

14. GRUMIXAMA (1)


O bairro do Alto da Lapa, em S. Paulo, começou a se desenvolver na década de 30. A saudosa Cia. City havia feito um loteamento com uma tecnologia que infelizmente se perdeu, orientando o traçado das ruas pelas curvas de nível do terreno. Avenidas e ruas largas, arborizadas com ciprestes e acácias que na primavera se cobriam de flores amarelas e roxas, enfeitavam aquele resto da mata atlântica que havia sobrevivido às roças de milho e mandioca. No final da década de 30 e durante os anos da grande guerra mundial, a Caixa de Pensões e Aposentadoria dos Ferroviários da São Paulo Railway construiu casas para seus afiliados nos terrenos marginais daquele loteamento, naturalmente mais baratos, de maneira que grande número de famílias passou a residir na região.
Em 1940 ainda havia muitos terrenos baldios cobertos do que restava da vegetação autóctone. Alguns, mais planos e grandes, serviam de campinhos de futebol para toda aquela criançada, filhos dos ferroviários. Após as cansativas peladas do final de tarde os guris percorriam o que restara de mata nos terrenos não construídos para procurar alguma fruta a fim de repor as energias perdidas. Amoras, guabirobas e grumixamas, cada qual na sua época, eram devoradas ainda verdes.
O progresso consumiu todos os terrenos e as grumixamas permaneceram somente na memória. Ninguém se interessou em cultivar e em melhorar a espessura da polpa daquela que é a prima pobre das cerejas.
Quatro lustros depois, neste Sul de Minas Gerais, encontrei para comprar uma mudinha de grumixama. Plantada e cuidada com carinho está produzindo flores lindas e frutos com sabor da infância. (continua)